Quais são os 200 livros mais importantes para entender o Brasil? Para buscar uma resposta a essa pergunta, motivada pelo bicentenário da independência do país, surgiu o projeto 200 anos, 200 livros. Depois de um trabalho longo e minucioso, amparado em uma série de critérios, a Associação Portugal Brasil 200 anos, a Folha e o Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) concluíram uma lista de 200 obras.

Lombadas dos oito livros mais indicados

A relação de obras se baseia em sugestões enviadas por historiadores, sociólogos, antropólogos, romancistas, economistas, juristas, entre outros profissionais —a grande maioria do Brasil, mas também alguns representantes de Portugal, Angola e Moçambique.

"Quarto de Despejo" (1960), de Carolina de Jesus, encabeça a lista, com o maior número de indicações. Em seguida, aparecem "Grande Sertão: Veredas" (1956), de Guimarães Rosa, e "A Queda do Céu" (2015), de Davi Kopenawa e Bruce Albert, empatados em segundo lugar.

O quarto livro mais recomendado é "Raízes do Brasil" (1936), de Sérgio Buarque de Holanda. Em quinto, duas obras, também empatadas: "Casa-Grande & Senzala" (1933), de Gilberto Freyre, e "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), de Machado de Assis.

Além de suscitar reflexões de cunho histórico e sociológico, entre outras, a iniciativa é ainda uma homenagem à língua portuguesa, por isso a divulgação da lista neste dia 5 de maio, quando se celebra o idioma.

A ideia de preparar um projeto com esse mote foi do empresário português José Manuel Diogo, fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos. Em dezembro de 2019, ele iniciou os contatos para uma parceria com o Projeto República e, meses mais tarde, convidou a Folha para participar da iniciativa.

Há pouco mais de um ano, a comissão formada pelos três parceiros começou a discutir nomes —todos ligados a atividades intelectuais— para compor um conselho curador, cujas opiniões seriam a base desta lista de 200 livros. Decidiu-se, desde então, formar um painel diverso em raça e gênero, além de contemplar as cinco regiões brasileiras, além dos três países já citados.

Ao longo de 2021, 169 conselheiros enviaram suas indicações, que, enfim, dão origem ao resultado final.

"200 anos, 200 livros é uma fotografia, um daguerreótipo, um retrato em lombadas, que ‘explica’ um Brasil diverso, global, moderno, que tem uma consciência exata do seu passado, do lugar que hoje tem no mundo, dos seus desafios futuros e dos caminhos para os trilhar", afirma Diogo.

O projeto é também, segundo o empresário, "uma verdadeira ação de celebração do bicentenário da independência do Brasil, construída por meio da arte e da cultura, tendo expressão física e virtual".

 Ao longo do seu desenvolvimento, a iniciativa ganhou o apoio da embaixada de Portugal no Brasil, do instituto Camões e da Universidade de Coimbra.

"Com quantos livros se conta uma história? E com quantas histórias se faz um país? São livros que dão voz a ideias, valores, sentimentos acerca da condição de ser brasileiro. As nações são imaginação, dizia Benedict Anderson, e se distinguem pelo estilo com que são imaginadas. Só que não é fácil imaginar: vai ser preciso construir uma imaginação que não repudie sua própria historicidade; vai ser preciso aproximar-se do Brasil, recolher os traços do país e de sua população para nele atuar", comenta a historiadora Heloisa Starling, coordenadora do Projeto República e professora da UFMG.

  1. "Os livros representam o propósito de expor desenhos e projetos de Brasil ao mesmo tempo em que aguçam nossa imaginação sobre o brasileiro que um dia fomos ou poderíamos ser; ou sobre o brasileiro que ainda queremos ser", ela complementa.

O também historiador Danilo Araujo Marques, pesquisador do Projeto República, teve participação efetiva nos 200 anos, 200 livros.

"O projeto tem a relevância de reunir múltiplos olhares sobre o Brasil em um painel contemporâneo e, em muitos casos, surpreendente. Montar retratos do pensamento como esse estão entre as missões do jornalismo profissional", afirma Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha.

"Além disso, a iniciativa é uma demonstração de que parcerias de veículos da imprensa, como a Folha, com universidades e empresas podem ser bem-sucedidas", diz ele.

Como representantes do jornal, participaram da comissão Letícia Carvalho, gerente geral de marketing, Ana Paula Duarte, analista de projetos, e Naief Haddad, repórter especial.

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