Quem foi Hipólito da Costa?
Por Isabel Lustosa na Folha de S. Paulo data 2.abr.2022
Pesquisadora do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa e autora dos livros "Insultos Impressos: a Guerra dos Jornalistas na Independência’ (Companhia das Letras, 2000) e "O Jornalista que Imaginou o Brasil: Tempo, Vida e Pensamento de Hipólito da Costa" (Editora da Unicamp, 2019)
Personagem marcante no processo de emancipação do Brasil, Hipólito da Costa defendeu no jornal Correio Braziliense, fundado por ele em 1808, o projeto de um grande império luso-brasileiro com sede na América, sob a forma de uma monarquia constitucional que modernizasse as instituições. Desdobramentos da Revolução do Porto, em 1820, enterraram o sonho de união, levando Hipólito a aderir à Independência.
O brasileiro que, por meio de seus escritos, mais contribuiu para a Independência do Brasil não queria que o país se separasse de Portugal.
Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, ou simplesmente Hipólito da Costa, personalidade da ilustração luso-brasileira, desejava mesmo era que os dois reinos continuassem unidos, se engrandecendo mutuamente, confirmando o sonhado projeto de um império português com sede na América.
Esse foi o motivo pelo qual ele lançou em 1808 —e manteve até 1822— um jornal que, apesar de impresso em Londres, onde vivia, era escrito em português. O Correio Braziliense se destinava aos leitores do país em que Hipólito depositava o seu sentido de pertencimento.
Na verdade, ele nem sequer tinha nascido no que hoje consideramos o território brasileiro. É originário da Colônia do Sacramento, na Cisplatina, região objeto de disputa entre Portugal e Espanha. Pertencia aos portugueses em 1774, quando Hipólito nasceu, e voltou ao domínio espanhol em 1777, quando sua família, de pai brasileiro e mãe açoriana, precisou deixar o lugar, junto com todos os outros portugueses.
Eles se estabeleceram no Rio Grande do Sul e foram importantes na criação da cidade de Pelotas. Hipólito teve dois irmãos mais novos e foi educado por dois tios padres —o mais influente deles, o chamado Padre Doutor, preparou-o para estudar em Coimbra.
E para lá o rapaz seguiu munido de cartas de recomendação. Uma delas devia ser destinada a d. Rodrigo de Sousa Coutinho, pois esse importante ministro de d. João seria o padrinho do jovem brasileiro na viagem de trabalho que ele faria, em 1798, logo depois de formado.
"Diário de Minha Viagem à Filadélfia", título dado à publicação das notas que produziu durante os dois anos em que viveu nos Estados Unidos, é um documento fascinante que nos faz lembrar "A Democracia na América", de Alexis de Tocqueville. Não que a obra de Hipólito, que nem mesmo foi escrita e pensada para publicação, tenha a densidade ou a pretensão analítica da do pensador francês.