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Porquê, Salman Rushdie? Uma reflexão sobre o ódio.

Meu assunto com o autor era sempre a liberdade —e os perigos que ela enfrenta

José Manuel Diogo com Salman Rushdie em Óbidos — 1 de outubro 2016

Ataque a Salman Rushdie lembra que o ódio, uma vez começado, nunca termina

Salman Rushdie com Pilar del Rio

Em 2016 conheci o escritor Salman Rushdie. Estivemos juntos por três dias, apenas 72 horas, mas foram tão intensas que ficamos amigos e, desde então, regularmente, fomos trocando mensagens. O nosso assunto era sempre a liberdade e os perigos que ela enfrenta. Essa liberdade que o fez esconder-se do ódio por causa dos "Versos Satânicos" e, também por causa deles, o fazia sentir-se livre e cidadão do mundo, na sua amada Nova York.

Foi em outubro, na vila literária de Óbidos, em Portugal, durante o festival literário Folio, que todos os anos acontece em uma das mais pitorescas localidades de Portugal, que o encontrei pela primeira vez. O escritor "maldito" era afinal um homem simples e divertido.

Incrédulo, fiquei mudo de espanto quando li a notícia de que o ódio tinha finalmente encontrado Josep Anton precisamente em Nova York, a cidade de que ele se considerava cidadão, na forma mais clássica e mais pura.

Josep Anton era o forçado pseudônimo no qual Salman Rushdie se escondeu da fatwa que o aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu em 1989, quando era o líder supremo do Irã, e que mais tarde resultou no livro "Josep Anton, Uma Memória", publicado em 2012 quando já se pensava que a sombra do ódio decretado pelo aiatolá estivesse extinta.